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Archive for November, 2008

Obsessão Momentânea

Eu funciono da seguinte maneira: leio três livros em duas semanas. Passo as próximas cinco sem virar uma página. Aí a obsessão retorna e me carrega junto com ela. Quatro romances depois, ignoro minha prateleira carregada deles.

Como classificar torna tudo mais fácil, vamos chamar meu comportamento de “obsesões momentâneas”. Eu sou uma POM. Pessoa de obsessões momentâneas.
Ontem terminei de ler Memórias de Uma Gueixa, romance tomado por empréstimo de uma grande arquinimiga minha que não vale a pena citar aqui (por isso ela mesma se cita aqui).
Devorei cada uma das 450 páginas em exatos seis dias. Tudo bem que só trabalhei em três, mas mesmo assim considerei o fato uma maratona de leitura para uma pessoa com tantas distrações ao redor como eu (TV, geladeira e casa da melhor inimiga estiveram entre os obstáculos deste período).
Quando uma POM coloca fim a uma das etapas de sua obsessão, há de se entender que o desespero para chegar à próxima se transforma em uma espécie de compulsão. E foi com este espírito ansioso e violento que eu me dirige à estante.
Não foi fácil chegar ao título. Primeiro pensei em uma biografia. Aí lembrei que, neste tipo de livro, a maior provação é passar por 50 páginas de infância triste e pobre para chegar na parte que realmente interessa. Haja saco.
Dirigi meu olhar a um volume de teoria crítica do teatro. Genial. Perfeito. Tudo o que eu sempre quis ler. Não hoje. (Venho repetindo este processo diante da crítica teatral há, pelo menos, 18 meses)
Que tal se eu fosse ler, então, um romance francês clássico de 800 páginas? Muita coisa e, afinal, Balzac mereceu a atenção do CTB (Caio Túlio. O resto vocês advinham) Não pegou nada bem para Balzac. Vai demorar alguns anos para eu desvencilhar uma imagem da outra. Isso é que dá andar em más companhias.
Por fim, pensei em descer e dar uma olhada na estante de livros do escritório do meu pai. Foi ali que os encontrei. Agatha Christie. Mais de 30 exemplares. O paraíso perfeito, governado por um homenzinho belga de cabeça de ovo conhecido como Hercule Poirot. Folheei cada um dos volumes e, aos poucos, fui lembrando o final de cada trama. Há de se entender que não dá para reler livros de suspense ao concluir que o suspense acabou. Pena. Acabei escolhendo Milton Hatoum, porque não posso desperdiçar a fúria de leitora que está dentro de mim agora. 
Uma POM corre o risco de ser tratada como irresponsável, de se dedicar tanto a um aspecto da sua vida por alguns dias que esquece todos os outros. Mas enquanto aquele livro, aquele seriado ou aquela peça de teatro me absorvem eu sou a pessoa mais competente do mundo para falar do assunto. Ou não. Na verdade, não me importa que eu seja a melhor, apenas que eu esteja convencida disso.

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Teste

Qual é a relação que você mantém com a escrita e com a literatura em geral?
D  e  s  e  s  p  e  r  o

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Não encontrei Jesus

Vamos fazer uma festa pra ele? Lá vamos eu e uma amiga atrás daquilo que deveria ser a sensação da comemoração. Guaraná Jesus. Não há viva alma que tenha passado por uma de suas aulas sem ter ouvido sobre a tal bebida do Maranhão. Guaraná rosa. Mó legal, palavras dele.

Tem uma casa de comes e bebes do Norte no Paraíso, perto da Cubatão. Fizemos o caminho a pé, descemos em busca do elixir. No endereço indicado, uma farmácia. Vai ver é tão bom que esconde poderes curativos, pensamos. Não, não esconde. Não tinha Guaraná Jesus lá. O mais próximo disso que o velhinho tinha ouvido falar era uma Igreja na esquina. Ok, não era o que procurávemos. 
Que tal ir para a Estação da Luz? Várias casas do Norte por lá. Não, minha amiga já tinha passado em muitas e nada. Provavelmente, a garrafa mais próxima estava no Maranhão mesmo. Imagino um monopólio de mercado dos grandes, com barreiras nas fronteiras e proteções alfandegárias. Ninguém entra e ninguém sai enquanto não for revistado.
Voltamos para a festa surpresa, sem guaraná Jesus. Bebemos Coca-Cola e Kuat mesmo. Um bolo de chocolate e chapéuzinho de festa resolveriam o assunto. Fiquei triste, triste de saber que tinha falhado. Que não tinha conseguido encontrar o presente que ia abrir um sorriso envergonhado no rosto dele. Ele diria que não precisava, que ele se sentia muito honrado por tudo, pela consideração e pelo esforço que fizémos para agradá-lo. 
Faz um ano. Eram 30, agora a barreira já foi devidamente consolidada. Não é mais um garoto de vinte e poucos anos. Mas ainda tem um livro de brincadeiras para garotos e um senhor cabeça de batata. Tem também um pós-doutorado na Inglaterra e o trabalho de me orientar no projeto que vai decidir se eu posso ou não ser conhecida como Sra. Jornalista Formada – ao invés de Srta. Aprendiz de Jornalista. 
Obrigada, querido. Sinto muito a sua falta, principalmente porque a vida é dificil deste lado do Oceano sem um orientador – e um amigo – como você. Conto os dias para janeiro. Parabéns.

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Acadêmicos

Não é de propósito, não parece ser de propósito. Mas me irrita profundamente. Professor entra na sala. Professor explana sobre seu currículo, pontuando, é claro, que foi orientando de um gênio durante um mestrado, que traduziu o livro de outro pouco depois. Ninguém pode culpá-lo. Afinal, qualquer curso começa com a apresentação de seu professor. É sua obrigação, não vício da vaidade.

Durante a aula, todas as informações na ponta da língua. Inclusive com pequenas fofocas acadêmicas e piadas planejadas e cultivadas na experiência de anos de aula. É fácil notar sacadas prontas, para quem tem certa experiência em sentar em carteiras. Mas é claro que o professor conta com a falta de experiência dos alunos – e com a incapacidade deles de perceber que tudo aquilo que parecia tão espontâneo e engraçado não passa de uma encenação. Sorte dele que a encenação é, para mim, a única maneira de atingir a verdade. Mas vamos voltar ao professor.

Um dos maiores críticos de teatro da atualidade. Pelo menos até um mês, quando escrevia para o maior jornal do Brasil. Ou seja, vale a pena escutar este cara. Mas tantos outros detalhes tiravam minha atenção. Ele é sério, muito sério. Tem a pose de acadêmico sisudo – que se abre para brincadeiras de quando em quando, mas conserva a postura de gente importante. Em suas histórias, não quer revelar os envolvidos. Porque acha que isso vai ter alguma conseqüência. É claro que vai mesmo. Mas o fato dele saber disso diz muito mais sobre o assunto. Ele não é um qualquer, é um iniciado nos trâmites da carreira acadêmica.

Por isso me olha como se fosse melhor do que eu. E ainda se envaidece quando percebe um olhar admirado. Cita Molière, porque não se sai de uma aula de crítica teatral sem citar Molière. O mesmo com Shakespeare. Ele não faz de propósito. Ele não parece fazer de propósito.

Mas me deu um certo nojo do procedimento todo. Eu volto para a aula da semana que vem, mas preciso me policiar para não desviar a atenção para o tal procedimento todo. Ele me lembra que, para ser bem sucedido neste meio, é preciso praticar uma habilidade conhecida como marketing pessoal. Entenda este meio por vida humana no século XXI. Ele conhece todo mundo no teatro. É amigo de todo mundo no teatro. E ainda assim acha que isso não prejudica em nada sua percepção dos espetáculos a que assiste.

Parte de fazer crítica de teatro é tomar chopp na Praça Roosevelt? É fazer parte da panelinha central do teatro? Como isso ajuda? É perfeitamente compreensível que ele queira se tornar amigo das pessoas que admira no palco, de quem fala bem de seu trabalho. Mas ele me perdeu. Meses antes de sua saída da Folha de S.Paulo, eu já não lia mais Sérgio Sálvia Coelho. Eu freqüento a praça, eu sei com quem ele anda, eu posso tentar dizer quem ele é. E posso encontrar em sua crítica resquícios muito profundos disso.

Outro ponto: o crítico que vem da arte, que se formou em direção teatral pela Usp e fez um mestrado em dramaturgia, não sabe o que é leitor. A noção mais clara do jornalismo é que ele não existiria sem este pequeno detalhe: aquele que abre a página do jornal e dá vida ao seu texto. Para o crítico que estamos criticando aqui, é óbvia a idéia de que a interpretação da platéia é parte do processo de composição de uma obra teatral. Mas não dá muito crédito àquilo que o seu público pode pensar do que lê. Entre os tipos de crítica, cita sempre o texto em relação ao encenador. A crítica pedagógica é aquela que ensina o encenador a melhorar seu trabalho. Então não existe um nome para definir aquela crítica que presta atenção no leitor e o citua no espetáculo? A postura é o equivalente a assumir – e fazer as pazes com – a idéia de que só quem lê sobre teatro é quem faz teatro. Eu leio. Eu não faço, eu gosto. É egoísmo demais querer que o jornal que eu comprei pense um pouco em mim?

Eu tenho um projeto de monografia sobre como o gosto – e o capital do gosto, já que eu ia me meter pelos franceses pra justificar isso – interfere na postura do crítico teatral. Para análise de caso, ia me concentrar em Folha, Estado e Bravo. Como estudo (pouco), trabalho (muito) e tenho um almanaque de séries para concluir, deixei pra fazer isso num futuro mestrado, que pode vir um dia se eu me sentir inteligente o suficiente e conseguir reunir cada gotinha de espírito acadêmico-prepotente que existe em mim.

Quem sabe eu consiga responder por que a crítica se concentra tanto nela mesma e nas pessoas de quem fala. Resenhistas sem formação jornalística (e os jornalistas ruins também) costumam tratar a crítica como um exercício de criação de uma obra de arte em público. O papel é seu palco. Dialogam com o objeto analisado, para usar termos mais científicos, na presença de uma platéia. Mas não conseguem olhar para os olhos de quem está sentado, tomá-lo pela mão e convidá-lo a participar do espetáculo.

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