Eu funciono da seguinte maneira: leio três livros em duas semanas. Passo as próximas cinco sem virar uma página. Aí a obsessão retorna e me carrega junto com ela. Quatro romances depois, ignoro minha prateleira carregada deles.
Como classificar torna tudo mais fácil, vamos chamar meu comportamento de “obsesões momentâneas”. Eu sou uma POM. Pessoa de obsessões momentâneas.
Ontem terminei de ler Memórias de Uma Gueixa, romance tomado por empréstimo de uma grande arquinimiga minha que não vale a pena citar aqui (por isso ela mesma se cita aqui).
Devorei cada uma das 450 páginas em exatos seis dias. Tudo bem que só trabalhei em três, mas mesmo assim considerei o fato uma maratona de leitura para uma pessoa com tantas distrações ao redor como eu (TV, geladeira e casa da melhor inimiga estiveram entre os obstáculos deste período).
Quando uma POM coloca fim a uma das etapas de sua obsessão, há de se entender que o desespero para chegar à próxima se transforma em uma espécie de compulsão. E foi com este espírito ansioso e violento que eu me dirige à estante.
Não foi fácil chegar ao título. Primeiro pensei em uma biografia. Aí lembrei que, neste tipo de livro, a maior provação é passar por 50 páginas de infância triste e pobre para chegar na parte que realmente interessa. Haja saco.
Dirigi meu olhar a um volume de teoria crítica do teatro. Genial. Perfeito. Tudo o que eu sempre quis ler. Não hoje. (Venho repetindo este processo diante da crítica teatral há, pelo menos, 18 meses)
Que tal se eu fosse ler, então, um romance francês clássico de 800 páginas? Muita coisa e, afinal, Balzac mereceu a atenção do CTB (Caio Túlio. O resto vocês advinham) Não pegou nada bem para Balzac. Vai demorar alguns anos para eu desvencilhar uma imagem da outra. Isso é que dá andar em más companhias.
Por fim, pensei em descer e dar uma olhada na estante de livros do escritório do meu pai. Foi ali que os encontrei. Agatha Christie. Mais de 30 exemplares. O paraíso perfeito, governado por um homenzinho belga de cabeça de ovo conhecido como Hercule Poirot. Folheei cada um dos volumes e, aos poucos, fui lembrando o final de cada trama. Há de se entender que não dá para reler livros de suspense ao concluir que o suspense acabou. Pena. Acabei escolhendo Milton Hatoum, porque não posso desperdiçar a fúria de leitora que está dentro de mim agora.
Uma POM corre o risco de ser tratada como irresponsável, de se dedicar tanto a um aspecto da sua vida por alguns dias que esquece todos os outros. Mas enquanto aquele livro, aquele seriado ou aquela peça de teatro me absorvem eu sou a pessoa mais competente do mundo para falar do assunto. Ou não. Na verdade, não me importa que eu seja a melhor, apenas que eu esteja convencida disso.
Graças às OM estamos de pé!
Que tédio assassino não seria sem esses mini-comerciais da vida.
Vou pensar em qual poderá ser a minha próxima OM.
Hey, Vanessa. Aqui é o Mauricio do blog EU SÉRIES. Você entrou em contato comigo pelo blog. Se quiser falar algo mais comigo é só me mandar um e-mail para mim:
mauricio_filho@fasternet.com.br
Hahahaha, muito bom!
Letras, Pô?
Beijos
Adorei!
O post e o blog!
Tenho também estes repentes obsessivos com algo. Me dedico totalmente, fico sem energias e passo semanas me recompondo para recomeçar a mesma insanidade.
Abs
Você falou de teoria teatral e eu lembrei do “A Preparação do Ator”. Minina, tenho uma relação de amor, ódio e mais um pouco de raiva com esse bendito.
Tem dia que preciso lê-lo mais do que tudo e qualquer coisa e devoro 40 páginas em duas horas (conhecendo Stanislavski, isso é muito); em outros, tenho vontade de jogar o Stanisla pela janela, junto com todos teóricos, atores e autores do universo.
Mas geralmente gosto dele.
Quero ler o Construção da Personagem. Dizem que no final ele fica com ela e tudo acaba bem, com os dois morando em uma pequena fazenda cheia de livros em Wyoming.
(Oi, é a Cláu que foi por, hmm, dois meses, do Sagoma. =D E eu sou uma POC: Pessoa Obsessiva por Comentários. Surto na maioria deles.)
hahahahahahahaha, demais.
saudade, Pô!